Poemas de Bráulio Caldas

Advogado, professor e poeta vizelense Alguns dos poemas de Braúlio Caldas. Ler mais aqui


MÃES
O pranto da mãe que implora
Ao céu que salve o filhinho,
É como o da ave que chora,
Quando lhe roubam o ninho.


Elas são um santuário
De amor, de bem e de luz,
Imagens do Calvário
Abraçada aos pés da Cruz!


Não há de ser doloroso
Nesse mar tempestuoso,
Ver as mães a soluçar,
Vagueando sobre as ruínas,
Como pobres peregrinas
Que não tem filhos nem Lar
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AMOR
Nenhum poeta diviso
Que não tenha definido
Esse afecto transmitido
Do casal do Paraíso
Uns dizem que é fogo ardente
No coração, sem se ver;
Outros, que é um sonho, um prazer
Que eleva a alma, contente:
Inda alguns...acerbo espinho,
Uma aurora de ventura,
Um poema de saudade!
Eu, por mim (aqui baixinho...)
Eu chamo-lhe - uma loucura,
Doidices da mocidade
1885-B.C.
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MULHERES
Conta a Bíblia que, em instantes,
Feito o mundo, o Omnipotente
Criou os primeiros amantes
Para amarem eternamente.
Adão e Eva, uns pombinhos
Felizes, como o Senhor;
Confundiam-se em carinhos,
Eva era o sol do amor.
Afinal...beijando o querido,
Dá-lhe o fruto proibido
Foi a traidora primeva,
Por isso...(não vos zangueis)
Se os filhos herdam dos pais,
Vós todas sois filhas d'Eva...
1885-B.C.
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NUM QUADRO
Tenho à minha cabeceira
Num pequeno quadro estreito,
A pintura mais fagueira
O retrato mais perfeito.
E a formosura imensa
Dessa imagem pequenita,
É a Bíblia da minha crença,
A minha crença bendita.
Quando acordo, à madrugada,
Ou à noite, com desejos
De senhor, me deito, então:
Sempre a minha alma ajoelhada,
Lhe reza orações de beijos
N'um dilúvio de paixão
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CHARITAS
Qual árvore robusta,
Verdejante, frondosa,
Já secular, vetusta,
Mas sempre vigorosa,
Que dá sombra e dá fruto
E é tecto de agasalho,
E recebe em tributo
Calor e luz de orvalho;
Esse ser, esse alguém
Abre uns braços de mãe
E dá, cheia de amor,
Ao pobre, o pão e o tecto,
E recebe o afecto
Das lágrimas da dor.

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Á MEMORIA LAGRIMOSA DA BICA DA ÁGUA-QUENTE NA LAMEIRA
Ó Bica Augusta, cofre d'aguas termais
Que há muitos lustros foste construída
Onde estás? Para onde é que fugiste?
Alguém matou-te! Tu não tens já vida!

Aureo tesouro de riqueza imensa,
Herança nossa d'evos passados
Nós de ti despojados hoje fomos,
Ao seres preza de leões domados!

A tua veia que tão possante era,
Jorros vertendo d´água caudalosa,
Foi-te cortada, foi, a pouco e pouco
Até só gotas lagrimejar chorosa!

E essas gotas, ao findar-te a vida,
Tua face em gelo viu-se orvalhando:
Até essas mesmas, sem a dor no peito,
Quais sangue-sugas foram-t'as sugando!

Crueis algozes! Tirania injusta,
Sentenciando assim contra a inocente!
Malvados ferros, que tirastes vida
A quem saúde dava a toda a gente!

Diversos povos te rendiam preitos;
A muita gente deste em fim saúde:
Agora morta, resta um canto fúnebre
Vibrar saudoso à voz d'um alaúde!

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