Deus Bormânico (Caldas de Vizela). — Há duas inscrições alusivas ao Bormânico de Vizela, ambas elas já conhecidas. O sr. Hübner, que as viu, transcreve-as assim no
2.º volume do Corpus:
C. POMPEIVS
GAL. CATVRO
NIS. F. rect
VGENVS. VX
SAMENSIS
DEO BORMA
NICO V. S. P. s.
QVISQVIS HO
NOREM. AGI
TAS. ITA. TE. TVA
GLORIA. SERVETE
PRAECIPIAS
PVERO. NE
LINAT. HVNC
LAPIDEM
As quatro primeiras linhas estão hoje pouco menos de ilegíveis, bem como as duas últimas letras da sétima. Na sexta linha lê-se muito distintamente REO, em vez de DEO; porém Mascarenhas Neto, que primeiro deu notícia deste monumento6 informa que o seu possuidor lhe mandou renovar as letras, e é daí certamente que vem aquela anomalia.
A outra inscrição diz:
MEDAM
VS CAMALI
BORMANI
CO. V. V. L. M.7
Esta segunda inscrição está gravada numa ara portátil, de granito meio fino; enquanto que a primeira foi aberta numa grosseira pedra de uns oito palmos de alto, que devia ser fixada no solo.
Como se sabe, o culto de Bormânico estava vulgarizado nas Gálias, na Ligúria, segundo se infere do nome duma povoação deste país, o Vicus Bormani, e eu já mostrei, bem ou mal8, que o Bormos mariandino é o mesmo deus, primitivamente um deus das fontes. Foi só com o andar do tempo, a meu ver, que ele se tornou um deus curandeiro, fazendo milagres com as águas termais.
Certo é que nos aparece nesta qualidade em quase todas as inscrições, e provavelmente em Vizela, o próprio Esculápio, mencionado noutra inscrição, infelizmente perdida, a par dum Olimpo quase inteiro9, não o pôde destronar.
Tanto na margem direita do rio Vizela, onde foi encontrada a primeira lápide (na Lameira), como na margem esquerda, onde parece ter sido achada a segunda, há vestígios de estabelecimentos termais da época romana. O da Lameira devia ser importante, em vista dos excelentes mosaicos, que algumas escavações casuais têm posto a descoberto.
Quem da Lameira segue o caminho, que leva a igreja de S. Miguel, encontra a cada passo fragmentos de telha com rebordo, e, interrogando a gente da povoação, ficará sabendo que houve por ali a “cidade Suzana”. Pedra de antigas construções, aproveitada em casas e paredes modernas, não falta, e não e raro desenterrarem-se por aqueles sítios capitéis e fustes de colunas, moedas romanas, etc.
Notícias mais circunstanciadas sobre as antiguidades de Vizela podem ver-se no n.º 4, ano de 1884, da Revista de Guimarães.
A segunda inscrição de Bormânico traz-me sempre por associação uma outra, insculpida numa laje da Citânia, e que o. sr. Hübner, quando visitou estas ruínas, leu, como eu já tinha lido:
CORV
ABE
MEDAMVS
CAMALI
Este Medamo, filho de Camalo, podia muito bem ser devoto do Bormânico de Vizela; mas não é para isso que chamo a atenção dos competentes. Que é Coru e Abe? A inscrição não pode ser funerária, porque se encontra dentro do primeiro recinto de muralhas, onde não é crível que existissem memórias desta espécie. O que é pois?