Leia aqui a carta dolorosa da mãe de Nelson.
Gabriel Vale disse ao ddV que é demasiado custoso falar novamente em público sobre um caso que transformou a sua vida e da sua família, mas faz o sacrifício pelo seu filho Cláudio falecido, melhor dizendo, assassinado de forma cruel, na noite de 5 de Dezembro de 2002 quando saía duma discoteca da zona industrial da Maia na companhia de um grupo de estudantes do ISMAI que ali realizaram um baile de finalistas.
O tribunal da Maia deu como provado que o açoreano André Resende investiu de forma criminosa e deliberada a sua viatura contra o grupo de estudantes onde se encontrava Cláudio Vale. O condutor fez ainda uma inversão de marcha na tentativa de albarroar novamente os estudantes mas a essa hora já Cláudio Vale estava por terra tal como Nelson Amaral, de Viana do Castelo, também estudante de Educação Física que ficou inutilizado para toda a vida.
André Resende seria condenado a 19 anos de prisão em primeira instância, tendo o Tribunal da Relação reduzido a pena em 5 anos e o Supremo confirmado os 14 anos de cadeia. Gabriel Vale nunca mais soube nada sobre o autor da morte do seu filho, mas a última informação que recebeu foi de que teria sido libertado ao fim de sete anos de cativeiro».
Quase dez anos depois deste crime que abalou a cidade de Vizela, os familiares das vítimas aguardam ainda o pagamento das indemnizações pendentes por recursos judiciais apresentados pela outra parte.
Cláudio Vale era uma jóia em pessoa. Era um músico exímio tendo feito parte de vários grupos musicais. Chegou a actuar na SIC, estando o canal de televisão a procurar imagens desse momento para exibir quarta-feira à tarde.
NELSON AMARAL ERA O MAIS JOVEM ÁRBITRO DE VIANA
O jovem Nelson Amaral, amigo de Cláudio Vale, ficou com graves lesões nas pernas e pés tendo deixado de praticar desporto. Em tribunal disse que jamais esqueceria o horror de ter levado uma trombada de um carro que o deitou por terra e depois veio novamente na sua direcção para o matar: «Consegui mover-me apesar de ter a perna partida» - disse na altura em tribunal sob a presença do autor do crime que se emostrou quase sempre frio e distante.
Era o mais jovem árbitro da Associação de Viana do Castelo e dançava num grupo folclórico. Estava prestes, tal como Cláudio, a terminar o seu curso de professor de Educação Física. Tudo ficou arrumado naquela noite.
A sua mãe, que estará quarta-feira na SIC, colocou uma petição na internet que pode consultar aqui e ler na íntegra no texto que segue:
Chamo-me Maria Eunice Amaral de Campos Magalhães, sou Educadora de Infância, tenho 52 anos, portadora do Cartão de Cidadão nº 5978173 e tenho dois filhos, um com 22 e outro com 29 anos.
Há dez anos atrás, o meu filho mais velho, de seu nome Nelson Filipe Amaral da Cunha, na altura, estudante de Desporto no I.S.M.A.I., na cidade da Maia, foi brutalmente atropelado, junto com outros colegas, dos quais um faleceu no momento, por um individuo que por lhe ter sido negada a entrada na festa académica da universidade supracitada, resolveu por vontade própria vingar-se e avançar com o seu carro por cima dos estudantes.
O indivíduo foi preso no próprio dia e foi instaurado um processo no Tribunal Judicial da Maia, com o nº9041/04.8 TBMAI -4º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Maia.
O acidente, ocorreu a 5 de Dezembro de 2002.
O meu filho ficou deficiente físico para toda a vida. Fez inúmeras cirurgias, ficou com pé pendente, devido ao corte do nervo ciático, sem possibilidade de : voltar a estudar, a arbitrar (era árbitro da terceira divisão nacional), a pertencer ao Grupo Folclórico de Viana o Castelo, voltar à Tuna Académica, onde tocava e cantava, bem como ao raffting,onde era monitor.
O tribunal da Maia, resolveu separar o Processo Judicial, do Processo Cível, razão pela qual, ainda continuamos à espera da indemnização que permitirá ao meu filho, ter por exemplo, um carro adaptado que possa melhorar um pouco as condições de vida. Bem como pensar num pequeno negócio que lhe possa garantir a sua subsistência.
Eu acompanhei o meu filho, sempre, durante os três anos de internamentos. Eu perdi tempo de serviço, eu entrei em depressão que será para toda a vida.
O meu filho tentou o suicídio, sofreu e sofre todos os dias. Para aliviar as dores físicas, ele tem que injectar de seis em seis meses uma injecção chamada Durolane num joelho. Para ajudar nas dores da alma, toma imensas drogas.
Nós, os Pais, gastamos todo o dinheiro que tínhamos para que o nosso filho pudesse, pelo menos ,ficar a andar. Temos empréstimos feitos, dado não termos o suficiente para pagar tudo que ele precisou e ainda precisa.
Esta Petição, tem como objectivo, processar o Estado Português pela morosidade da resolução do processo. Sendo que é o Estado Português o Órgão responsável pelas leis que permitem a um tribunal estar com um processo DEZ anos, sem que ainda nada esteja resolvido.
Peço uma indemnização, ao Estado Português, por todos os danos físicos, psicológicos e financeiros, pelos quais o meu filho, e nós pais, temos vivido nos últimos dez anos.
Os signatários